O ICOM Portugal realizou, no passado dia 7 de agosto, uma visita à Fábrica de Pólvora de Vale de Milhaços, núcleo do Ecomuseu Municipal do Seixal, com o objetivo de acompanhar a situação atual de um dos mais notáveis testemunhos do património industrial português e de um dos dois projetos portugueses selecionados a nível mundial para os Prémios ICOM de Sustentabilidade 2025.
Durante a visita, foi possível testemunhar o extraordinário trabalho desenvolvido por uma equipa dedicada que, apesar de operar com recursos extremamente limitados, tem vindo a preservar e ativar este espaço com elevado valor técnico, histórico, ambiental e educativo.
A Fábrica mantém o circuito fabril original de fabrico de pólvora negra, datado de finais do século XIX, incluindo a rara máquina a vapor Joseph Farcot (1900) em funcionamento — uma das últimas em contexto museológico na Europa.
Além disso, o espaço constitui um verdadeiro laboratório vivo de sustentabilidade, com ações inovadoras de preservação da biodiversidade, integradas num plano que hoje se encontra entre os 130 projetos selecionados pelo ICOM Internacional, provenientes de mais de 60 países. Os vencedores serão anunciados em novembro próximo, na conferência geral do ICOM em Dubai.
A iniciativa liderada pelo Ecomuseu e desenvolvida em colaboração com a associação Vita Nativa revela uma visão integrada entre preservação patrimonial, sustentabilidade ambiental e envolvimento comunitário — uma prática exemplar de museologia que foi reconhecida ao ser selecionada para a fase final dos Prémios ICOM de Sustentabilidade 2025.
O trabalho desenvolvido já resultou, entre outros, no inventário de 570 espécies de fauna e flora; na instalação de 40 caixas-ninho para aves e de 20 caixas-abrigo para morcegos; na manutenção de 3 charcos temporários; na criação de uma microfloresta de 25 m2 com o plantio de 90 árvores e arbustos nativos da região; e, no plantio de uma horta comunitária.
Apesar do reconhecimento nacional e internacional, ficou clara para a equipa do ICOM Portugal a urgência de dotar este núcleo de meios técnicos e humanos adicionais, que permitam garantir: i) a manutenção e segurança do circuito fabril; ii) a continuidade do programa de biodiversidade, único no contexto de património industrial em Portugal; iii) a expansão da oferta educativa e cultural associada a este sítio; iv) o registo, inventariação e preservação ativa de um acervo industrial de valor inestimável.
A visita permitiu constatar, no terreno, como a Fábrica de Pólvora de Vale de Milhaços — classificada como Monumento de Interesse Público desde 2012 — se tem afirmado, apesar das severas limitações de meios humanos e técnicos, como um verdadeiro laboratório vivo de práticas museológicas e de conservação ambiental.
Esta dinâmica insere-se no crescente reconhecimento internacional de que este património industrial tem sido alvo, evidenciado na obra A Fábrica de Pólvora de Vale de Milhaços do Século XIX ao Século XXI (2023), unanimemente considerada um registo exemplar do percurso desenvolvido.
A publicação sublinha ainda, segundo especialistas, o potencial excecional do núcleo para integrar uma futura candidatura à Lista do Património Mundial da UNESCO, reforçando a necessidade de uma estratégia concertada que permita reativar plenamente o Ecomuseu Municipal do Seixal enquanto referência nacional e europeia.
Perante esta realidade, o ICOM Portugal renova o seu apelo às entidades competentes: reforçar os recursos humanos e técnicos deste espaço é um investimento estruturante na valorização do património, na qualificação do serviço público cultural e na recuperação ativa de um legado museológico ímpar, com impacto local, nacional e internacional.
Lisboa, 8 de agosto 2025
David Felismino, Presidente do ICOM Portugal
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