ICOM Portugal: 50 Anos a Promover os Museus

Posted by on Mai 19, 2025 in Destaques, Notícias

ICOM Portugal: 50 Anos a Promover os Museus

Hoje, dia 20 de maio de 2025, o ICOM Portugal assinala 50 anos de existência enquanto associação criada neste dia no ano de 1975, sendo estatutariamente constituída e não governamental, na sequência de antecedentes da sua criação em Portugal e a par da criação da APOM – A Associação Portuguesa de Museologia, em 1965. Esta data representa um marco significativo na história do ICOM (Conselho Internacional dos Museus) e da museologia em Portugal, testemunhando cinco décadas de trabalho contínuo na promoção dos valores e princípios que orientam os museus como instituições ao serviço da sociedade, do património cultural, da memória, do conhecimento e do desenvolvimento humano.

O ICOM Portugal tem desempenhado um papel essencial na consolidação e afirmação do setor museológico no país, contribuindo ativamente para a construção de uma museologia profissional, ética e comprometida com a missão social dos museus. Ao longo de 50 anos, consolidou-se como plataforma essencial de diálogo entre profissionais de museus, investigadores, instituições culturais e de ensino, entidades governamentais e a sociedade civil. Herdando os princípios fundadores do ICOM internacional – criado em 1946 –, a secção portuguesa assumiu como sua missão a promoção dos museus como espaços de educação, inclusão, diversidade, salvaguarda patrimonial e responsabilidade social, bem como a valorização e defesa dos profissionais de museus e do património.

Não será demais enfatizar a importância de uma visão internacional e integrada para os museus, alinhando-os às melhores práticas, em contextos onde a circulação de informação era muito mais limitada. A realidade para os profissionais de museus antes da Revolução de Abril ou antes da adesão do País à CEE era radicalmente diversa dos nossos dias.

Um percurso de compromisso e inovação

Ao longo de meio século, o ICOM Portugal destacou-se pelo seu envolvimento na definição de políticas públicas para a cultura e os museus, na produção de pensamento crítico e na promoção da qualificação dos profissionais do setor. Tem sido um interlocutor privilegiado junto das instituições nacionais e internacionais, promovendo o diálogo, a cooperação e a representação de Portugal nos debates globais sobre o papel dos museus nos séculos XX e XXI. Este trabalho, muitas vezes silencioso e discreto para o grande público, mas intenso e contínuo nos bastidores, tem contribuído para a elaboração ou/e revisão de políticas públicas na área dos museus e do património. 

Foram inúmeras as iniciativas promovidas pela associação ao longo do seu percurso: congressos, colóquios, formações, publicações e parcerias estratégicas, sempre com o objetivo de reforçar o contributo dos museus para uma sociedade mais justa, diversa, participativa e sustentável. A associação esteve sempre na linha da frente em momentos decisivos das políticas nacionais, como na criação da Rede Portuguesa de Museus, na introdução de normas de acessibilidade e inclusão nos museus, e na valorização dos museus comunitários e de memória, e com participação ativa nas mais importantes iniciativas internacionais, como na revisão da definição de museu, ou do código deontológico. Foi ainda responsável por assinalar pela primeira vez em Portugal o Dia Internacional contra o Tráfico Ilícito de Bens Culturais.

Ao longo destes 50 anos, cada presidência do ICOM Portugal deixou uma marca distinta, refletida em avanços institucionais, projetos inovadores e numa crescente afirmação da associação no panorama nacional e internacional. Esta trajetória de sucesso foi possível graças ao empenho e à visão estratégica das sucessivas equipas dirigentes, que souberam interpretar os desafios do seu tempo e projetar o papel dos museus na sociedade contemporânea. A diversidade de perspetivas, aliada a um compromisso comum com os valores do ICOM, permitiu consolidar uma cultura de continuidade e inovação. A todos os que contribuíram com o seu tempo, saber, dedicação e espírito de missão, deixamos um profundo reconhecimento.

O reconhecimento internacional dos profissionais de museus portugueses tem sido uma marca distintiva da qualidade e do rigor técnico-científico com que Portugal se posiciona no panorama museológico global. Vários associados e membros dos órgãos sociais do ICOM Portugal têm assumido cargos de relevo nos órgãos de decisão do ICOM Internacional, contribuindo ativamente para a definição das orientações estratégicas e éticas da organização a nível mundial. Esta participação tem permitido reforçar a visibilidade das práticas museológicas desenvolvidas em Portugal e fomentar uma presença qualificada e influente nos principais fóruns de discussão sobre o futuro dos museus. É também reflexo da maturidade e da excelência da comunidade museológica portuguesa, cuja voz tem sido escutada, respeitada e valorizada além-fronteiras.

Um presente e um futuro com responsabilidade

Atualmente o ICOM Portugal mantém-se como uma referência nacional e internacional no setor, representando uma comunidade alargada de profissionais e instituições museológicas. Através da promoção de boas práticas, da reflexão crítica e da cooperação em rede, a associação tem procurado responder aos novos desafios que se colocam aos museus, desde as questões da acessibilidade e inclusão à inovação digital, passando pela sustentabilidade e pela relevância social, sem nunca esquecer a valorização e a importância da matriz que sustenta a missão de todos os museus: a investigação, a documentação, a conservação, a interpretação e a divulgação das suas coleções e do património à sua guarda.

Um dos pilares fundamentais da ação do ICOM Portugal tem sido a valorização dos profissionais de museus. A associação defende ativamente a dignificação das carreiras e competências técnicas e científicas dos profissionais, reconhecendo o seu papel central na qualidade, integridade e vitalidade das instituições museológicas. Através de programas de formação, publicações, eventos e representação institucional, o ICOM Portugal tem promovido uma cultura de reconhecimento, atualização e capacitação contínua, essencial para o fortalecimento do setor. 

O acesso gratuito aos museus para membros do ICOM tem uma importância significativa, tanto simbólica quanto prática, refletindo o reconhecimento do papel que os profissionais de museus desempenham na preservação, gestão e valorização do património cultural.

Num tempo em que os museus enfrentam profundas transformações, o ICOM Portugal reafirma o seu compromisso com os princípios que sempre nortearam a sua atuação: a defesa da ética profissional, o reforço da missão educativa e cultural dos museus, e a promoção da diversidade e da coesão social. 

O futuro apresenta-se exigente, mas também repleto de oportunidades. 

Os museus enfrentam desafios complexos que exigem respostas integradas e sustentáveis. Entre eles, destaca-se a necessidade de reforçar a sustentabilidade ambiental, económica e institucional das instituições museológicas, adotando modelos de gestão resilientes e responsáveis. A transformação digital impõe uma reconfiguração das práticas museológicas, com impacto na mediação cultural, na preservação das coleções e na relação com os públicos. Acresce a urgência de promover a diversidade cultural e a inclusão social, construindo narrativas mais representativas e plurais, sensíveis às diferentes identidades e memórias, e simultaneamente fiéis aos dados científicos que a investigação e documentação das coleções impõe. Finalmente, o investimento contínuo na formação e capacitação dos profissionais do setor será decisivo para garantir uma nova geração de agentes culturais preparados para responder aos desafios de um mundo em constante mudança.

Acresce ainda, nos últimos anos, mais do que nunca, o impacto das sucessivas mudanças político-governativas e da instabilidade institucional, que frequentemente comprometem a continuidade de políticas públicas estruturantes para o setor cultural em geral, e para o museológico e patrimonial em particular. Esta instabilidade fragiliza a capacidade de planeamento estratégico, desvaloriza o investimento já realizado e põe em causa projetos de médio e longo prazo fundamentais para o desenvolvimento sustentado do setor. Torna-se, por isso, urgente a afirmação de políticas de Estado para os museus — estruturantes, duradouras e baseadas em consensos alargados — que garantam os necessários recursos humanos, físicos, técnicos e financeiros para o cabal cumprimento da missão dos museus, a sustentada preservação e valorização do património, a qualificação dos seus profissionais e o reforço do papel dos museus como instituições culturais de referência ao serviço da sociedade, e que acompanham a sua dinâmica e o devir histórico, enquanto garantes da sua identidade e do património cultural comum.

Um Compromisso que se renova

Com os olhos postos no futuro, o ICOM Portugal renova o seu compromisso com a defesa dos museus enquanto espaços de conhecimento, cidadania e transformação. Continuará a atuar com responsabilidade, diálogo e visão estratégica, promovendo uma museologia humanista, crítica e ao serviço do bem comum.

Neste marco simbólico, o ICOM Portugal dirige também uma palavra de incentivo a todos os profissionais de museus, cuja dedicação, resiliência e competência são pilares fundamentais da vitalidade das instituições museológicas. O seu trabalho — muitas vezes desenvolvido em contextos exigentes e com recursos muito limitados — é essencial para garantir a qualidade, a inovação e a relevância dos museus na sociedade contemporânea, e o seu papel fundamental enquanto guardiões do património para o futuro. O ICOM Portugal reafirma o seu compromisso na valorização destes profissionais, promovendo a sua formação, representatividade e dignificação, e defendendo as condições necessárias para o pleno exercício das suas funções com autonomia e reconhecimento.

Face desafios da inclusão, da democracia cultural e da democratização da cultura, o ICOM Portugal continuará a desenvolver ações concretas para tornar os museus mais acessíveis e representativos da diversidade da sociedade. Este ano, a associação promoverá novas ações de formação para profissionais e desenvolverá um grupo de trabalho dedicado à descolonização dos museus, com o objetivo de refletir sobre as práticas e narrativas. Além disso, serão realizados novos fóruns de debate e reflexão, promovendo o diálogo sobre boas práticas para tornar os museus mais inclusivos, democráticos e responsáveis socialmente.

Um ano para comemorar

As comemorações dos 50 anos do ICOM Portugal, que se estenderão até março de 2026, serão uma oportunidade para celebrar o legado da associação e para refletir sobre o futuro da museologia. As iniciativas incluirão um encontro sobre a história e o papel das associações profissionais na área do património, a realizar-se em março de 2026, além de debates e mesas-redondas em diversos locais e momentos ao longo desse período. Serão também publicadas diversas obras, incluindo uma edição comemorativa, e desenvolvidas várias iniciativas digitais para envolver o público e os profissionais em todo o país.

A primeira iniciativa destas comemorações é a apresentação de uma nova identidade institucional que representa o aniversário do ICOM Portugal, simbolizando a celebração do seu passado, que reforça a identidade presente da associação e renova o seu compromisso com o futuro.

Convidamos todos os associados, profissionais, parceiros e públicos a participarem ativamente nas comemorações dos 50 anos do ICOM Portugal, contribuindo para o fortalecimento da nossa missão comum e para a construção de um futuro mais inclusivo, consciente e sustentável para os museus do país.

Os museus são feitos de pessoas e para pessoas. 

Viva o ICOM Portugal! Vivam os museus!

Lisboa, 20 de maio 2025

David Felismino

Presidente do ICOM Portugal

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