Museus para a Educação e Investigação. Dia Internacional dos Museus 2024

Posted by on Mai 18, 2024 in Destaques, Notícias

Museus para a Educação e Investigação. Dia Internacional dos Museus 2024

Neste Dia Internacional dos Museus 2024, somos convocados a celebrar duas funções basilares dos museus: a Educação e a Investigação. Os museus foram e são, em termos históricos e por definição, lugares de investigação, experimentação e aprendizagem, bem como muitas vezes de vanguarda e inovação.

Investigação e Educação relacionam-se, convergem e interligam-se para moldar a nossa compreensão e interpretação do mundo. A Investigação alimenta a Educação para que a mesma possa assumir um lugar pertinente. Além de um conhecimento especializado e atualizado, a colaboração contínua entre Investigação e Educação permite aprofundar a visão, a missão e a vocação de cada museu, naquilo que são as suas principais linhas de trabalho, bem como cria condições para a sua existência, nomeadamente na sua dimensão social e de relacionamento com os seus públicos.

A nova definição de museu, aprovada pelo ICOM em 2022, sublinha a assunção definitiva do papel dos museus enquanto agentes sociais. Os desafios colocados por esta postura são inúmeros: entre outros, a diversificação dos públicos, a abertura às comunidades, o compromisso com o acesso e a inclusão, a democratização e pluralismo das narrativas, a partilha da autoridade e do conhecimento, a ampliação e variedade programática, a permeabilidade à contemporaneidade, o compromisso e ativismo sociopolíticos.

Estas metas obrigam os museus a uma alteração de posicionamento no sentido da sua transformação em espaços dinâmicos e empáticos, de encontro, de inclusão, de partilha, de diálogo e de pensamento crítico. Enquanto lugares de inclusão e diversidade, os museus devem promover valores associados à democracia e à participação cívica, devem ser espaços de encontro e união, contribuindo diretamente para o diálogo intercultural, a coesão social, a saúde e o bem-estar das comunidades locais. A abertura às comunidades, a democratização da cultura, a democracia cultural, a cidadania participativa só são e serão possível através de um compromisso permanente com o acesso e a inclusão, a partilha de autoridade e a permeabilidade à contemporaneidade, materializados em projetos e iniciativas de cocriação. 

Espaços de encontros e diálogos, os museus são e serão sempre ainda lugares de ausências. Os museus são e serão sempre campos de tensão cíclica: tensão entre mudança e permanência, entre o perene e o volátil, entre a diferença e a identidade, entre o passado e o futuro, entre a memória e o esquecimento, entre o poder e a resistência. A perceção e o reconhecimento destas tensões possibilitam a abertura à diversidade. 

Os desafios colocados pelo presente, como a globalização, a transição digital, a emergência climática, o envelhecimento das sociedades, os fenómenos migratórios, o crescimento e a afirmação de discursos e ideologias segregadoras, pondo em causa valores e práticas democráticas há muito adquiridos, impelem os museus a um compromisso ainda maior, do ponto de vista social, com as comunidades que os rodeiam. 

Cabe aos museus enfrentar e abraçar estes importantes desafios colocados por públicos cada vez mais diversificados e exigentes, e pelas necessidades e requisitos cada vez mais prementes da participação social e cultural. Investigação e Educação devem caminhar em conjunto, respondendo aos desafios do presente e do futuro. Devem os museus criar e avançar com instrumentos e metodologias sólidas para incrementar a mediação com a sociedade, não só de dentro para fora, como e sobretudo de fora para dentro, assumindo-se como lugares de efetiva participação cultural, social e cívica. 

Neste contexto, os Serviços Educativos ocupam um espaço cada vez mais central, se não o mais importante, nas instituições museológicas. São portentosos mediadores, intermediários e facilitadores que, de forma criativa, escutam, dialogam e ajudam a pensar, mobilizando conhecimentos, capacidades e atitudes que permitam uma efetiva ação humana, potenciando a construção de uma cidadania ativa e participativa, assente na justiça social e na equidade. No contexto da complexidade e da imprevisibilidade da sociedade atual já aqui referida, estas finalidades ganham redobrado significado, contribuindo os mediadores culturais para transformar os museus em espaços efetivos de democracia cultural e democratização da cultura. 

Paradoxalmente, a função e a necessidade de haver mediadores culturais nos museus permanecem desvalorizadas, mantendo-se os mesmos quando existem em situações de trabalhadores precarizados, com repercussões nas vidas desses profissionais, mas também nos próprios museus. A ambicionada relevância social dos museus só é, e só será, possível com efetivas políticas de recrutamento e valorização das carreiras destes profissionais de museus, do ponto do seu reconhecimento, da sua formação e das suas condições de trabalho, contribuindo-se, assim, para uma mudança de paradigma do tecido museológico português, dotando-o de equipas pluridisciplinares apetrechadas para enfrentar os desafios atuais.

Urge cumprir o que Walter Benjamin romantizou, há séculos atrás: os museus são espaços provocadores de sonhos, são ambientes de devaneios e fantasias. Entrar num museu deve transportar para outro mundo, abrindo um infinito de possibilidades e desconstruindo os paradigmas mais sedimentados. Os mediadores culturais são motores fundamentais nesta descodificação do inacessível, estabelecendo pontes entre diferenças, estimulando para a descoberta e a partilha.

Por fim, este dia de celebração é ainda para o ICOM Portugal um dia de grande preocupação pela difícil situação vivida pelos profissionais integrados nas novas estruturas com responsabilidades na gestão dos museus, monumentos e património cultural nacionais, débeis nas suas orgânicas, funcionamento e processos de implementação e, neste momento, espartilhadas num quadro disfónico de incerteza, responsável por uma enorme instabilidade, paralisia dos serviços e desânimo das equipas. Que este Dia Internacional dos Museus 2024 seja um dia de reflexão sobre a relevância dos profissionais de museus para a nossa sociedade e que esta visibilidade transcenda a data e se reflita em efetivas estratégias, políticas e recursos rejuvenescedores. Volvidos 50 anos do 25 de abril, nunca será demais lembrar o quão preciosos foram e são os museus na transformação das mentalidades e das sociedades, na promoção da democracia e da cidadania e na defesa de valores fundamentais como a liberdade, a igualdade e a fraternidade!

Vivam os museus!

Lisboa, 18 de maio 2024

David Felismino 

Presidente do ICOM Portugal

DIM 2024 - ICOM PT

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